quinta-feira, 17 de março de 2011

Carnaval de Recife X Carnaval de Salvador

Uma experiência, necessária de ser vivida!

Impressiona pelas semelhanças e também pelas diferenças. Ver o povo todo cantando as músicas locais, reverenciando sua cultura e trazendo para as ruas sua alegria contagiante, nisso somos um pouco parecidos..

Impressiona também ver o povo de santo emocionado e mantendo suas tradições ao pedir licença aos Eguns, na noite dos tambores silenciosos e através da diversidade de afoxés e maracatus de inúmeras nações, uma cena de rara beleza.

Impressiona poder relaxar sem medo das cordas, se sentir parte do maior bloco do mundo, que é "Guiness Book todo ano, visse" e  curtir diferentes opções e gêneros musicais...e "não importa o que digam os juizes"

Impressiona ver a inserção das políticas de promoção da igualdade demarcadas na programação, no marketing de todo material público e no material de divulgação do carnaval

Impressiona o comportamento quase educado dos policiais militares...

Mas o que mais impressiona é saber que nós baianos um dia fomos assim, apesar de ao longo do tempo termos convivido sempre com a desigualdade, isso não era impedimento para  driblarmos essa realidade através da criatividade, o que permitia ao povo inovar e mostrar sua capacidade de produzir belezas a cada ano.

Entretanto, embarcamos na idéia de capitalização do carnaval, de que com isso muitos ganhariam... e a festa espontânea virou um comércio violento da alegria. Neste cenário o que fica visível é o acirramento das iniquidades, do racismo, sexismo e outras discriminações e violações que passam bastante demarcadas a cada bloco, nos catadores de lata, nos foliões "pipoca" e no cotovelo do aparato policial, iniquidades despercebidas o ano inteiro e que o carnaval expõe a quem quiser ver...

Na forma como a Mudança do Garcia é tratada a cada ano pelos blocos de trio e pelos poderes públicos.Como os afoxés se reduzem de festa em festa Ou como as mulheres negras são citadas nas músicas mais reverenciadas e os homossexuais ridicularizados nos blocos de "machos", ou mesmo como os brancos são protegidos e privatizam todo espaço público comercializando-o...

Rezo para que o carnaval de Recife saiba resisitir a essa tentação do capital e da mídia pausteurizadora brasileira, burra, aliás chega a ser uma ofensa ao referido animal quadrúpede, mas a mídia carece de inteligência e sensibilidade, pois tornaram-se porta-vozes de um discurso vendido, comprometido com aquilo em que não se pode confiar....

Sei que não é caso de comparação, pois cada local vivencia de sua forma sua cultura, mas sentimos que o nosso modelo de festejar precisa se modificar, não no sentido da capitalização da alegria que chegou a expulsar 70% dos soteropolitanos e sim no sentido da humanização da festa para trazer de volta a alegria d@s bacantes.

Enquanto isso, vamos acompanhando as possibilidades de transformação que mais uma vez só podem vir do povo, como uma prova da sua força e da sua necessidade de ressurgir das cinzas da mediocridade!

Viva a a festa da carne!

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