"Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove"
Adélia Prado
Este Blog apresenta crônicas, pensamentos e um pouco do perfil da autora, naquilo que gosto de me debruçar para refletir. Neste espaço espero contribuir com opiniões, expressões e declarações que compartilho com todas as pessoas que o acessarem.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
BANHO DE CHUVA
A chuva é uma delícia, quando estamos em casa protegidos, seguros, ou quando gostamos de nos banhar em suas águas doces.
Não gosto de viajar de barco quando chove, nem de ficar com os pés e roupas molhadas no corpo, depois que a chuva acaba...mas adoro ir ao cinema em dia de chuva e quando criança gostava das chuvas de verão que vinham rápidas e fortes, depois de um dia super quente de Feira de Santana.
Geralmente vinham acompanhadas de trovões e raios, uma festa!
Minha mãe dizia que esse tipo de chuva fazia muito bem a saúde, pois os raios, segundo ela, limpavam tudo que houvesse de ruim.
Ah! Naquele tempo eu acreditava em tudo que ela dizia então, não podia ver uma chuva dessas que eu saia correndo para me molhar, me encharcar e haja raio, e haja trovão, o mundo desabando e eu lá me alimentando de chuva...
Para mim o trovão era a trilha sonora daquela chuva gostosa e os raios efeitos especiais luminosos. A rua ficava vazia e eu só no pulo, rabo de arraia, salto mortal, estrelinha, correndo com os seres imaginários da chuva, querendo beber daquela água tão boa pra saúde, pra pele, pro cabelo, pra vida na terra e pro corpo. Eu nunca peguei resfriado por causa da chuva...
Não sei onde minha mãe aprendeu isso, até porque ela própria não se jogava na chuva, tinha trauma das enchentes de Nazaré. Será que ela queria se ver livre de mim me expondo aos raios?
Hoje penso que era a tal da psicologia reversa, ela deveria ter se cansado de falar pra eu sair da chuva e usou este recurso, porque até hoje minha mãe morre de medo de trovoadas... E mais recentemente de tsunamis...
Eu adorava também ir a praia quando chovia, ninguém queria ir e eu lá indignada. Como deixar de estar dentro d'água morna do mar e a chuva caindo ao redor? Água pra todo lado... Delícia... E banho de cachoeira na chuva é uma catarse completa!
Hoje gosto destas chuvas fininhas, calmantes, das trovoadas e de bolinhos de chuva...
Quando estou na Casa Branca, as crianças ficam felizes e procuram Egbomy Nice de Iansã, na primeira gota, pois sabem que raios, trovões e chuva mexem com ela, ela grita, festeja, conversa com os trovões é uma beleza!
Foi maravilhoso também ver a saída de Xangô Airá no Oxumarê num dia de trovoada, foi mesmo um privilégio cinematográfico pois tudo estava integrado, o trovão respondia ao tambor, o tambor chamava e falava com o trovão e Xangô bailava como eu quando criança, brincando com a chuva...naquele tempo eu nem desconfiava que era com meu filho que eu dançava...
bjs
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